Versões.

28 nov

     Era fim de tarde e eu voltava do trabalho, meu carro, bem como outras coisas da minha vida, estava ruim. Então, aceitei a carona de uma colega de trabalho até o ponto de ônibus mais próximo. Na parada haviam alguns casais e um senhor, fora isso todo resto era escuridão e vazio. fechei os olhos e lembrei de um tempo – agora distante psicologicamente – onde eu fazia parte daquele seleto grupo de pessoas bobas e apaixonadas.

Assim que o ônibus chegou embarquei, sentei bem na frente numa cadeira individual, sempre as preferi – afinal você nunca sabe quem pode sentar-se ao seu lado – pensei no trabalho, mas não consigo agora lembrar sobre o que especificamente estava pensando, pois segundos depois tudo fora varrido da minha mente. Eu sabia que podia encontrá-lo ali, na verdade vê-lo mesmo que de longe era um dos pontos mais altos do meu dia, mas aquele não era mesmo um dia bom. Ele não estava sozinho, sua mão branca segurava outra, seu sorriso encantava outro par de olhos. Eu quis descer daquele ônibus e fazer algo ruim contra ela, eu quis tirar ele dali e repreende-lo como se faria com uma criança desobediente.

Rezei pra ele não me visse, mas eu também não pude fechar a janela, fiquei ali olhando pra frente fingindo que não via nada, mas cada músculo do meu corpo agia de forma contrária. O motorista ligou o ônibus novamente, e quando eu pensei que poderia respirar a vontade ela entrou no ônibus. Eu e ele a observamos, ele parecia admirado e eu sentia exatamente o oposto. Assim que ela passou por mim, olhei pra ele outra vez, dessa vez ele me viu. Seu aspecto mudou bruscamente, assentiu com a cabeça pra mim de forma cordial, eu retribui mesmo sentido como aquilo me machucava.

O ônibus partiu e eu fui pra casa rezando pra que no outro dia eu já o odiasse. Vê-lo com outra não era exatamente o problema, mas vê-lo ali com essa outra era uma afronta, eu me via nela, ela era agora quem eu costumava ser mas numa outra versão.

16 Respostas to “Versões.”

  1. Keel Diniz 28 de novembro de 2010 às 9:33 pm #

    Que fofo, é insuportável ver nosso amor com outra pessoa mesmo, é difícil se conformar com isso. 😦

  2. Elania 28 de novembro de 2010 às 11:46 pm #

    Nossa, que triste e tão profundo. E acho tão plausível essa história. Muito lindo.É de arrancar o coração qndo ver alguém amado com outra, e ainda, feliz. Pq a gente pensa " Eu não faço falta, não o faço feliz, blá-blá." É sempre assim.Bom. Até :*

  3. Daninha 29 de novembro de 2010 às 1:05 pm #

    ver a pessoa que já foi sua com outra é horrível mesmo .-.Mas como diz uma música: Amores são coisas da vida". Passar por isso é ruim, mas é normal já que você não está mais com essa pessoa.Beijos

  4. Dhebora Hevelin 29 de novembro de 2010 às 9:20 pm #

    Que saudade de passar por aqui!Seus textos me fizeram muita falta…Agora estou de volta.Beijão, boa semana!

  5. Rah C. 30 de novembro de 2010 às 6:31 pm #

    Ain que triste, coitada dela. ):Amor machuca. ):Adorei aqui.Beijos

  6. Leticia Bueno 30 de novembro de 2010 às 11:48 pm #

    Difícil mesmo é sentir que ela está exatamente no lugarque ocupamos um dia, não que o sentimento seja o mesmo, mas parece não é? SEI LÁ, ESTRANHO MESMO É LER ESSE TEU TEXTO E ME SENTIR NELE…Ótima escrit. 🙂

  7. Thaty 2 de dezembro de 2010 às 5:34 pm #

    Eu ja passei por isso e senti como se um mega abismo se abrisse sb meus pés… quase enfartei ali mesmo.Ainda bem que passou… e tudo passa.KissesThatyPedaços do Cotidiano

  8. A. 2 de dezembro de 2010 às 7:20 pm #

    Tu escreve muito bem! Tadinha dela :/ mas ninguém sabe ao certo o que virá amanhã, talvez ela encontre outra pessoa que o substitua, ou morra de raiva.

  9. Nina Auras 5 de dezembro de 2010 às 5:39 pm #

    Realmente, quando nos encontramos com alguém que amávamos, agora amando outra e sendo feliz com ela, um sentimento de tristeza nos invade assim. Lindo texto, adorei aqui *-*

  10. Tamires Buliki. 8 de dezembro de 2010 às 12:45 pm #

    Lindo o seu blog! Bom, passei por coisa parecida há pouco tempo também, e sei como é difícil!Beijos

  11. Norma Lúcia* 9 de dezembro de 2010 às 2:25 am #

    adorei o texto!! E o blog também!sobre o texto: acredito que as coisas estão exatamente como e onde tinham que estar. Tudo que sai das nossas vidas, é porque já acrescentou o que podia e não tem mais o que somar. Tudo a seu tempo. Dói, mas passa. Aceitação é a palavra chave. ;-)Beijocas.P.S.: quando puder, dá uma passadinha no meu blog pra conhecer, viu?beijocas.

  12. Thaíse L. 10 de dezembro de 2010 às 9:23 pm #

    Ai que triste. Pode parecer estranho, mas adoro ler seus textos, porque você escreve tão bem que a história não precisa ter um final feliz.Beijos.

  13. Aline Neves 11 de dezembro de 2010 às 5:57 pm #

    Incrível com eu me vi no seu lugar, acho que esse é o maior medo quando terminamos uma relação. Não sei qual seria minha reação mas já me imaginei vária vezes. Muito bom adorei.Beijos&Beijos

  14. Hearty 13 de dezembro de 2010 às 12:47 am #

    As palavras como "eu já não gosto de você" nos deixam triste, mas ver que fomos substituida é uma dor incomparavelmente pior. Existe um ponto positivo nela: nada melhor do que uma bomba de realidade para nos desiludir, e, consequentemente, nos ajudar a esquecer.Fazia tempo que não vinha aqui… mas sem palavras, os textos estão maravilhosos.

  15. Thaís. 14 de dezembro de 2010 às 1:46 am #

    A atitude dela foi linda. No fundo, ela vai conseguir esquecê-lo, penso eu, e desejar felicidade a ele. Por mais difícil que seja, o propósito do amor é esse.''Assim que o ônibus chegou embarquei, sentei bem na frente numa cadeira individual, sempre as preferi – afinal você nunca sabe quem pode sentar-se ao seu lado.'' HAHAHA Eu tenho o mesmo raciocínio. Enfim, vou ficando por aqui.Um beijo, @pequenatiss.

  16. Nina Auras 17 de dezembro de 2010 às 6:08 pm #

    Adorei o texto! A verdade é que o amor não se dissolve assim tão rápido, e é por isso que sofremos tanto quando vemos que o outro seguiu em frente. Mas odiar alguém não acontece de uma hora para a outra. Infelizmente, em alguns casos.Lindo aqui *-*

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